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Argumentar sobre a necessidade de independência para um povo dependente como o nosso é como explicar o porquê um ser vivo precisa de respirar. Tem-se escrito muito sobre as transformaçons económicas, políticas, sociais e culturais, que beneficiariam o povo galego no caso de obter a independência.

Ao melhorarmos as condiçons de vida, as condiçons laborais, os serviços sociais…, ao normalizarmos a nossa língua e a nossa cultura, ao contarmos com um poder político que for soberano e nos representar na comunidade internacional, as mulheres galegas como integrantes em 50% da populaçom deste país, imo-nos ver beneficiadas. Mas essa mesma independência que como integrantes dum povo submetido nos é tam necessária reivindicar, nom assegura a destruiçom dos valores e estruturas patriarcais.

A independência nom assegura o fim dos valores machistas, da violência que se exerce contra nós, da usurpaçom da nossa força de trabalho de jeito gratuíto no ámbito doméstico e da nossa capacidade reprodutiva; nom assegura os nossos direitos sexuais e reprodutivos, a nossa educaçom em igualdade, a nossa participaçom política com plenos direitos.

A vinculaçom que Mulheres Nacionalistas Galegas tem à causa nacional, que considera como própria, nasce da análise da realidade do país a que pertencemos e que nos situa no mundo como mulheres dum povo oprimido na periferia da Europa ocidental. A luita pola independência nom garante por si própria um avanço para a nossa libertaçom, mas é umha realidade que nos atinge como parte do povo galego, a quem se negam os seus direitos fundamentais, e isto condiciona as coordenadas onde se desenvolve a nossa actividade e sobre as que marcamos os nossos objectivos.

A Galiza independente nom tem porque supor o fim da existência de MNG ou de qualquer outra estrutura organizativa da que se dotarem as mulheres do país para darem umha resposta global à sua problemática. Assim é que podemos ver criar e desfazer siglas e projectos, mas os nossos objectivos de finalizar o patriarcado som muito mais globais e vam muito mais alô do que supom a própria independência.

Os reptos que mantém o feminismo hoje em dia podem ser extrapolados ao conjunto das forças políticas e as organizaçons e movimentos sociais em geral. Partimos da base de que a actual situaçom económica, política e social tem diferentes respostas organizadas a distintos níveis, mas todas elas confluem, na teoria, no desejo de construir umha sociedade mais justa e, também, muito na teoria, na defesa dos direitos da Galiza.

Todas estas expressons políticas respondem a modelos mais ou menos elaborados de país. Projectos que tentam construir umha Galiza diferente com distintas quotas de soberania. No caso do independentismo, umha Galiza dotada de Estado próprio ou, nas correntes mais libertárias, umha Galiza fora do jugo do Estado espanhol ou de qualquer outro Estado.

Na hora de construirmos a nossa naçom, o feminismo pom acima da mesa temas que podem entrar em litigio com as posiçons que nom contemplam a luita contra o patriarcado como um vector fundamental para que essa construçom nacional se realize sob prismas de justiça e igualdade. Sabemos que umha idea de país muito soberano e independente, nom sempre coincidiu com ideias libertadoras e feministas, senom muito ao contrário.

As mulheres, e muito concretamente os nossos úteros, fomos utilizadas historicamente por diferentes ideologias e em circunstáncias também muito diferentes, para fazer da maternidade um meio para conseguir um fim político. Os chamados para deixarmos de parte o nosso pretendido egoísmo e fazermos um serviço à pátria trazendo bons galegos e galegas, sempre vam ter um confronto radical no feminismo. Qualquer construçom nacional que se pretenda de costas aos direitos das mulheres e fomentando valores patriarcais, merece esse enfrontamento.

Poderia-se pensar que um homem independentista, revolucionário, progressista… é representativo das mulheres e dos seus interesses de mudança social. Sempre aparece algum voluntário “feminista” para representar-nos. Deste jeito as organizaçons nom tenhem que realizar o esforço de comporem os seus organismos de direcçom, as suas listas electorais ou mesmo procurarem os erros que os conduzem a ter muitas menos mulheres em suas filas que homens. Teríamos assim mais umha vez o patriarcado instalado comodamente nos alicerces dum projecto nacional, com o objectivo de perpetuar-se. Um debate a sério sobre este tema deveria aprofundar nas razons da nossa baixa participaçom e a quase ausência dos postos de responsabilidade. As análises do feminismo podem deitar luz e fazer mudar a prática política das organizaçons que pretendem transformaçons sociais reais.

Cumprem projectos nacionais que assumam os direitos das mulheres e recolham, das luitas feministas, todas aquelas alternativas que se elaboram para assegurá-los e defendê-los. Só desde a luta  anticapitalista e antipatriarcal poderemos conseguir umha mudança radical desta sociedade e portanto é muito importante aprofundar na auto-organização e nas formas de luita das mulheres para construir umha Galiza realmente livre e nom patriarcal.

Todas estas reflexons devem perceber-se dentro da necessidade de dar alternativas concretas a problemas pontuais. O Feminismo vê-se na obriga de levar avante luitas concretas pola simples sobrevivência, defender alternativas tácticas que mesmo apresentam contradiçons, a realidade impom muitas vezes as reivindicaçons mais imediatas, as do dia a dia, mas é o feminismo o que nos converte em insubmissas e revolucionárias porque a nossa sempre foi e será umha vocaçom de ruptura e transformaçom, de revoluçom global, no público e no privado, para toda a Humanidade.

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