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O feminismo é o único movimento que não tem nada de que se envergonhar. Não pedimos favores, exigimos direitos

(Soledad Murillo)

Todas sabemos que o direito ao aborto não é só o mais importante dos direitos reprodutivos, senão um dos nossos direitos mais importantes.

O aborto é dovela de muitos outros direitos e se este se põe em questão o que está em jogo é o direito de todas as mulheres a sermos donas de nós, dos nossos corpos, a sermos livres. Temos (em breve pode ser tínhamos) uma lei que parecia que, tarde ou cedo, poderia ser melhorada. Mas não. A igreja e os reacionários iniciam uma campanha na contramão da aplicação da mesma com o objetivo de fazê-la mais restritiva e periga o conquistado.

Há uns meses podíamos pensar que esta lei era inamovível, que a direita nunca se atreveria à tocar. Agora já sabemos que não; que a campanha na contramão tem sido forte e ainda por cima não fomos quem de realizar uma oposição organizada. Agora o PP tem ganhado as eleições também no Estado e vai modificar propondo um regresso ao passado: a 1985.

Mas de que nos assombramos? De que a direita seja direita? De que o Opus atue como se fosse o Opus? O PP desmantela o público e ninguém (ou quase ninguém) fez nada. Na Galiza aprovou-se a “Lei de apoio à família” e mal fomos as feministas as que nos preocupamos e tentamos nos auto organizar para o protesto.

Agora o PP vai contra o direito ao aborto e a ninguém deveria surpreender. Em realidade, faz o que fazem os governos reacionários. Está em consonância com sua política de subvencionar aos grupos pró-vida.

Há tempo que os governos de direitas estão a aplicar suas medidas:

  • Reduzem os orçamentos destinados a Políticas de Igualdade.
  • Elimimnam as subvencçoes destinadas aos CIM enquanto subvencionam aos grupos pró-vida.
  • Desmantelam os Institutos/Secretarias da Mulher, utilizando sua estrutura para promover estereótipos sexistas patriarcais e modelos de família tradicionais.

Mas, neste momento, o que conta é outra coisa. Devemos ser conscientes de uma vez por todas de que não é a direita só a que tem que nos preocupar, senão a esquerda, que não tem sido capaz de assumir realmente a defesa de nossos direitos e que com seu discurso de as “questões de género são transversais” e “o feminismo autónomo não tem razão de ser” não tem feito mais que desviar nossa atenção, nos fragmentar e dinamitar os espaços compartilhados. Isso sim que devería nos preocupar.

Escreveu-se e reflexionou-se muito sobre os impactos da atual crise na classe trabalhadora. Mas disse-se bem pouco das maneiras específicas que, tanto a crise como as respostas governamentais a ela, estão a ter sobre as mulheres. As medidas são criticadas de maneira genérica, sem incorporar nas análises as formas em que ditas mudanças nos afetam.

Com frequência esquece-se que o crescimento do desemprego, o recorte social resultante do Plano de Austeridade recai sobre as costas das mulheres, que seremos as que cobriremos mais uma vez com nosso trabalho invisível e não remunerado as negligencias do Estado. Seguiremos sendo as mulheres as que cobriremos a falta de residências, de escolas infantis, de pessoal sanitário, etc, vendo-nos “recompensadas” por todo isso com um recorte em nossas pensões por não ter permanecido laboralmente ativas de forma constante e completa.

Algumas sentimos em falta alguma análise e uma contestação, e não só por parte dos coletivos feministas, em relação a questões como o adiamento por segundo ano consecutivo na implantação da ampliação da permissão de paternidade a 14 semanas. Agora terá que esperar ao 1 de janeiro de 2013 para sua aplicação (isso se não o adiam até que esqueçamos que alguma vez houve uma lei que o contemplava…).

Aplicando uma análise desde a ótica feminista a resposta está clara: todas e a cada uma das medidas adotadas em nome da austeridade procuram perpetuar a divisão sexual do trabalho e enquanto nos tenham ocupadas em outras coisas, eles seguirão a se beneficiar de nosso trabalho, para se fazer cargo em exclusividade do cuidado das pessoas já estão as mulheres. Disse-o o bispo de Tarragona há uns dias verbalizando o que está no máis profundo do imaginario do patriarcado: “Às mulheres de minha igreja sempre lhes digo o mesmo: a quem tens que cuidar mais é a teu marido, ele é o filho mais pequeno da casa…”

Bem dizía Engels: a exploração das mulheres pelos homens é a primeira das explorações e a base de todas as outras.

Agora é o momento em que o feminismo deve se propor se vale a pena, se ainda nos ficam forças para lutar por nós mesmas e pelos nossos direitos.
Algumas estamos fartas e indignadas e não queremos assinar mais manifestos nos que se acuse à direita de ser de direitas, queremos manifestos nos que se exija à esquerda que tome a sério a defesa de nossos direitos e que se comprometa realmente a respeitar nossa autonomia, nossos espaços e nossas datas.

Desde MNG achamos que se não cimentamos agora algo tão fundamental como o direito ao aborto é possível que terminemos por perder em um futuro não muito longe e que nos encontremos em nada com o desmantelamento total das políticas de igualdade.

Por isso uma vez mais utilizaremos todos os espaços para dizer alto e forte: NÃO à reforma da lei do aborto.

Também o 8 de março, día da luta feminista, berraremos mais uma vez uma unica palavra de orde: PELO DIREITO A DECIDIR SOBRE NOSSOS CORPOS E NOSSAS VIDAS: FEMINISMO SEM TRÉGUA.

Se a esquerda quer nos acompanhar que o faça mas baixo uma bandeira, a lilás, e um só protagonista: o feminismo. Se realmente creem e assumem a nossa causa hão ser quem de o fazer.

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