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Cartaz MNG 25N 2017Mais um ano, sairemos às ruas o 25 de novembro e fazemo-lo porque as violências machistas seguem presentes no nosso dia a dia.
Virginia, Sesé…
Nomes que podem não dizer nada, mas eles dizem tudo, porque são os nomes que conhecemos das mulheres assassinadas na Galiza em 2017. No mundo, a cada 15 segundos uma mulher é espancada. A cada 4 minutos, uma mulher é estuprada. Todos os anos, 2 milhões e meio de mulheres e meninas são traficadas no mercado da prostituição. Não são apenas números, é a realidade que as mulheres enfrentamos diariamente.
As violências machistas são um problema estrutural de origem sociocultural; encontramos na escola, no trabalho, na rua, nos meios de comunicação, dentro dos nossos fogares e também dentro dos movimentos políticos e sociais, e portanto, é necessário uma mudança de mentalidade e de conduta para erradicá-las, e não apenas o 25 de novembro, mas todos os dias do ano. A violência física é a máxima expressão da violência machista contra as mulheres, mas é apenas a ponta do iceberg de uma pirâmide de diferentes formas de opressão. Abaixo há uma série de mecanismos de violência machista, que tomam uma aparência mais sutil e invisível e nos coexistem no dia-a-dia; no trabalho, na rua, em casa… Mecanismos que estão totalmente normalizados e, portanto, socialmente tolerados: olhares, insultos, desprezo, controle, espiar, silenciar, expressões como “estás louca, histérica, exagerada”, desautorizar, desvalorizar, culpabilizar.
A violência machista não é um problema das mulheres. É um problema de todos e todas. E não são casos isolados ou inevitáveis. Os dados são alarmantes e apenas como a sociedade é possível erradicá-la porque ainda vivemos em uma cultura sexista que normalizou os comportamentos criminosos contra as mulheres.
Estamos fartas de tanta violência machista. Na casa, na rua, no trabalho. Onde seja e quando for. Exercida pela parelha, pela ex parelha, por familiares, por colegas, por conhecidos ou por desconhecidos. Estamos cansas de ser notícia, das mulheres assassinadas convertendo-se em números, de ser vítimas, de ser assassinadas, ser insultadas, manipuladas, violadas, intimidadas, que nos utilizem. E tudo, só pelo feito de termos nascido mulheres.
Estamos tão fartas, que hoje dirigimos-nos a vós que contribuides a perpetuar as violências machistas. Que vos agachais ou passais desapercebidos mas sabemos que aí estais. Desta vez assinalamos-vos:
  • Aos violadores: sim, vós, os homens que nos forçastes, que utilizastes a vossa força física, a ameaça ou a coerción para submeter-nos, que não quisestes escutar um não, os que pensam que chega um momento que já é demasiado tarde para dizer que não. Ainda que sejas marido, colega, amigo ou acabado de conhecer. Não é não, sempre. E quando sintas não, nem nos toques! Só um sim é um sim. O utilizar drogas, álcool e substâncias químicas para anular a capacidade de decisão das mulheres é machismo. Nunca, em nenhum caso, a perda de consciência é sinónimo de consentimento.
  • Aos abusadores: os que utilizais uma suposta autoridade, no trabalho, em casa, na família, para submeter-nos, para agredir-nos, para causar-nos medo, para fazer-nos dano, para fazer-nos chantaxe, para nos coaccionar, para utilizá-lo no vosso benefício e para os vossos interesses. Nenhum cargo, responsabilidade, nenhuma autoridade é mais importante do que a nossa liberdade. Não tendes nenhum poder sobre o nosso corpo.
  • Aos acosadores: os que nos incomodais pela rua, nas festas, tomando copas, no transporte público, no trabalho ou na casa. Os que nos perseguis. Os que nos envíais mensagens ameazantes por telemóvel ou por correio electrónico. Os que controlais os nossos telefones. Os que nos incomodais através das redes sociais. Os que esperais num parking, num elevador, num portal ou nos perseguis dizendo-nos o que para vós são inofensivas “gabanzas”. Os que nos insultais quando não aceitamos as vossas propostas. Deixai-nos em paz! Não é timidez. É que as mulheres somos livres para decidir com quem queremos estar e, sobretudo, com quem não queremos estar.
  • Aos maltratadores: a violência é a vossa forma ilegítima de exercer o poder. Os que aproveitais a intimidade ou privacidade para bater, para matar, para vexar, para agredir sexualmente, para assustar. Ou para matar e maltratar aos nossos filhos e filhas. Sois criminais. As mulheres não somos propriedade de ninguém!!
  • Aos e as que calais mas sabeis que passa: quem lhes rindes as graças aos acosadores, quem consentistes que se maltratasse ou se violasse a uma mulher, quem mirou para o outro lado, quem não recriminou um abuso de poder… basta! Fala. Assinala. O silêncio faz-te cúmplice da violência; eleger a ignorância faz-te responsável.
  • A quem vos dedicais à política e estais em instituições, lembrai que quem pode fazê-lo e não actua é responsável pelos assassinatos machistas. Não tomar medidas é uma forma mais de violência.
  • Presentadores e presentadoras de televisão que fazeis espectáculo da violência machista. Com o vosso trabalho mal feito contribuís a perpetuar a cultura da violência. Basta de ver a maltratadores e violadores por televisão que se fazem as vítimas e justificam o seu comportamento. Basta de estigmatizar às mulheres maltratadas, de as perseguir pela rua, de buscar onde se escondem. Basta de vulnerar o seu direito à intimidade e destruir a sua privacidade e a dos seus filhos e filhas. Não confundais à audiência: o amor não é possessão. O namoramento não é propriedade. A violência contra as mulheres não é um espectáculo. Fazê-lo vai contra a ética jornalística, contra a responsabilidade profissional e contra os direitos das pessoas.
  • Jornalistas e médios de comunicação que quando informais da violência contra as mulheres dizeis que as mulheres morrem. As mulheres não morrem. Às mulheres matam-nas. Assassinam-nas. A ver se o percebeis de uma vez. Fazei bem o vosso trabalho e assinalai o machismo como causa desta violência.
  • Jornalistas que quando matam a uma mulher ou as suas criaturas perguntais à vizinhança como era o assassino. Dá-nos igual saber se saudava ou se era bom vizinho. Basta de explicar se o assassino era ciumento. Os assassinos não se justificam nem têm nenhuma aparência especial.
  • Profissionais do audiovisual que perpetuais os tópicos que atentam contra as mulheres: não nos convirtades mais em objectos. Parai de criar e tolerar mensagens machistas que normalizam relações de parelha tóxicas, que perpetuam tópicos sobre a realidade feminina que são falsos, caducos e nocivos.
  • Profissionais da publicidade e empresas anunciantes que vos recreais na estética do sofrimento das mulheres. Não convirtades a violência contra as mulheres em beleza e argumento de venda. Basta de imagens de mulheres submetidas aos homens, humilhadas, meio mortas, para vender perfumes ou relógios ou o que for. Deixai de sexualizar às criaturas. Parai de depositar carga erótica sobre a infância. As meninas e as crianças não são produtos.
  • Empresários do lazer nocturno que utilizais às mulheres como reclamo dos vossos negócios: não sejais cúmplices da violência machista. Parai de lho pòr fácil aos abusadores que podem encontrar, nos vossos locais, a coartada perfeita.
  • Profissionais da judicatura, a avogacía, o medicina forense, e corpos policiais que infravaloráis as denúncias das mulheres: sois responsáveis porque desprezais os testemunhos das mulheres agredidas e o risco que supõe conviver com um agressor; pondes em jogo as suas vidas. E lembrai: os filhos e as filhas também são vítimas da violência machista. Sois responsáveis porque permitis que a justiça seja utilizada pelos maltratadores como uma estratégia para continuar coaccionando as vítimas. A justiça patriarcal é cúmplice dos agressores!
E finalmente, a todas as mulheres:
Ninguém pode privar-nos dos nossos direitos. Temos direito a viver sem violências machistas. Temos direito a ser livres e a não sentir-nos culpadas por sê-lo. A nossa maneira de pensar, de vestir, de divertir-nos, de desfrutar da vida, nunca deve ser um argumento para acusar-nos ou fazer-nos sentir mal. Não somos responsáveis pelas agressões que recebemos. As nossas opiniões, desejos ou reivindicações são tão legítimas como as de um homem. Ninguém pode dizer-nos como devemos viver ou que fazer. Só nós podemos decidir como queremos viver e a mulher que queremos ser.
Viva a Luta Feminista, companheiras!
Por tudo isto e bem mais, o 25 de novembro juntamos às actividades convocadas pelo movimento feminista na Galiza.
Galiza, novembro 2017