Nunca me falárom de feminismo nas aulas. Nom é que nom lembre esse momento ou que naquela altura nom se considerasse umha prioridade para o sistema educativo. Pouco tardei em dar-me de conta de que era umha decissom perfeitamente artelhada para manter desinformada e desmobilizada toda umha geraçom. Hoje também nom se fala abertamente de feminismo nas escolas, e quando se fai é através de eufemismos que poderiam estar confundindo a mensagem, chegando a ser contraproducente. Repite-se a situaçom, som outros tempos onde temos mais acesso a informaçom do que nunca, mas interessa seguir desmobilizando geraçons de professorado e alunado, e sem dúvida fai-se com muito sucesso!
Desde a implantaçom da LOMCE nom tenhem sido poucas as vozes que advertírom dos importantes retrocessos em matéria de igualdade que traz consigo esta lei. Essa “melhora da qualidade educativa” que fomenta relaçons desiguais e de competitividade, onde o individualismo joga um papel fundamental e implica uns ritmos de trabalho estandarizados que formam a futura mao de obra já desde o ensino primário, mas que sem dúvida terá a sua máxima expressom na universidade, desde o momento em que se contabilizam créditos como horas de trabalho do alunado conforme o espaço europeio de educaçom superior. Nom é por acaso que este sistema pretenda ter todo atado e bem atado já desde que somos crianças; fazendo que impere a lei “dO mais forte”, o pensamento único, a obediência, a submissom e o adoutrinamento.
É claro que o que atinge às mulheres nom tem cabida nas reformas educativas, e boa parte dos conteúdos que, com sorte, se trabalham nas aulas partem da própria iniciativa individual da/o docente, ficando muitas vezes como umha prática individualista, porque há umha preocupante carência de projetos de intervençom a nível escola. A formaçom do professorado neste âmbito é escasa ou praticamente inexistente e semelha ser umha questom secundária, permitindo deste modo a reproduçom e proliferaçom de dinámicas que fomentam umha educaçom ao serviço do mercado, incapaz de empoderar às mulheres e que anula o pensamento crítico. Quando unicamente se trabalha que “as mulheres e os homens somos iguais” resulta insuficiente e em muitos casos seguem a se transmitir de forma implícita os roles tradicionais que pretendemos eliminar com umha perspetiva de género coerente e adequada às idades com as que trabalhamos. Onde estám as comissons de igualdade nas escolas? Existem programas de intervençom contra o terrorismo machista? Devemos seguir trabalhando em base ao conflito e nom à prevençom? Nom é a nossa obriga como docentes demandar formaçom sendo um tema de muitíssima relevância?
Nas nosas aulas parece que só há espaço para o heteronormativo, nem sequera se contemplam as diferenças nem a diversidade funcional, trabalhamos em contextos discriminatórios e discapacitantes. Nom estamos fazendo às raparigas parte ativa do processo, nom lhes estamos a proporcionar ferramentas nem as estamos a guiar no seu processo vital para fazer frente ao que esta sociedade tem preparado para elas. No entando, estamos sendo especialmente permissivas com a perpetuaçom do estereótipo feminino dócil. Custa acreditar que as raparigas nom se identifiquem com o feminismo se verdadeiramente sabem o imprescindível que é, custa também imaginar que os rapazes e adolescentes permaneçam impassíveis. Será que nom estamos a transmitir bem a mensagem? Às vezes parece que nos conformamos com que nenas e nenos partilhem espaços altamente masculinizados como se isso já fosse rachar com os estereótipos. Concordo com que o professorado deve estar à margem nos momentos de lazer do alunado, mas é a nossa responsabilidade trabalhar o tipo de relaçons de poder que se estabelecem e que reforçam um sistema de opressom como o patriarcado.
Cada vez que escuitamos um rapaz de 8 anos fazer umha piada sexista ou afirmar que feminismo = machismo é consequência de 8 anos estragados e supóm mais umha vitória do patriarcado. Há esperança e exemplos positivos, isso é o que nos permite avançar como docentes feministas no dia a dia, mas é insuficiente se a mensagem nom perdura no tempo, se nom há continuidade e nom existe um compromisso real do conjunto da comunidade educativa. Qualquer esforço é pouco, e precisamos umha soma de forças.
Como docentes temos a obriga de questionar o pensamento homogêneo e hegemónico, de levar a cabo práticas educativas de qualidade, que permitam visibilizar o que pretendem agachar, que dêem voz a quem pretendem silenciar, que fomentem a participaçom, o empoderamento e a justiça social. Nom podemos passar por alto o tratamento que fam os livros de texto do papel das mulheres na história, antes nom existiamos para as editoriais, mas agora somos um apartado nas últimas páginas das unidades, algo opcional, um simples anexo que nom se tem em conta, um remendo do estilo “as mulheres contam”, um “para saber mais”. Isso nom representa o nosso lugar no mundo.
E sim, há quem desde as instituiçons enche a sua boca hipocritamente falando de prevençom, coeducaçom, compromisso e de políticas de igualdade. Onde está todo isso no âmbito educativo? É compatível com um sistema para o que o sucesso escolar está baseado na adquisiçom de rutinas e hábitos memorísticos e nom em fomentar as capacidades e os valores?
Quando os partidos do sistema assumem um dos nossos discursos como próprio e começam a falar em termos nos que o feminismo de classe levamos anos falando é que as nossas reivindicaçons tornárom insuficientes e temos a necessidade de seguir avançando.
Se calhar é momento de começar a ponher em prática umha pedagogia feminista real, como já fam algumhas escolas galegas com projetos alternativos, a todas as pessoas que fam parte delas há que agradecer o esforço que supóm luitar contra a imposiçom patriarco-burguesa.
O futuro é lilás. A luita feminista é o único caminho!
Helena Embade Pita
[Activista das Mulheres Nacionalistas Galegas]